Silêncios
Vemo-nos no outro, nos silêncios,
e as palavras são vagas imagens,
ecos de sensações intangíveis,
pobres metáforas –como as estrelas
que te nascem nos olhos–, indícios de feitos
que se não podem precisar: subtilezas,
gestos discretos que sabemos de cor,
sintomas de afectos e de agitações
do ânimo, evocações dos dias
mortos e ânsias que se atenuam –advertimos
trocas ao entardecer– quando estamos
a meio caminho das comoções,
de alegrias doces e desencantos
que nos farão mais sofredores e transigentes,
e dos prantos derramados sobre os infortúnios
até que nos reconheçamos nos rostos
imperturbáveis das esculturas
e eu reencontre, por detrás das vidraças,
à contraluz daquele museu edificado
sobre megalitos pré-romanos, o mar,
o esplendor azulíssimo das brisas
de inverno, o sol do meio-dia beijando
a praça e o ar de resignada
tristeza do teu olhar enegrecido
deslizando lentamente pelas montras
observando fivelas, lamparinas, dados…
Reflectidos na frieza dos vidros.
Orquídea Lima
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